Humanos já produziam fogo há 400 mil anos, indica estudo que antecipa marco da evolução

  • 13/12/2025
(Foto: Reprodução)
Projeto Educação: entenda a evolução da espécie humana Cientistas britânicos afirmam que os humanos antigos aprenderam a produzir fogo há cerca de 400 mil anos — um salto de centenas de milhares de anos em relação às estimativas mais aceitas até agora. A conclusão vem de um estudo publicado nesta quinta-feira (12) na revista científica Nature e se baseia em evidências encontradas em um sítio arqueológico no leste da Inglaterra. Até então, o uso controlado do fogo era atribuído a populações neandertais que viveram no norte da França há cerca de 50 mil anos. As novas descobertas empurram esse marco para muito mais atrás no tempo e reforçam a ideia de que habilidades técnicas e cognitivas complexas surgiram bem antes do que se imaginava. Sítio arqueológico com sedimentos de lagoa de 400.000 anos em Barnham, Suffolk, Inglaterra. Jordan Mansfield/Pathways to Ancient Britain Project via AP Vestígios de uma lareira pré-histórica As evidências foram identificadas em Barnham, um sítio paleolítico no condado de Suffolk que é escavado há décadas. Pesquisadores liderados pelo Museu Britânico encontraram um conjunto de indícios que, analisados em conjunto, apontam para o uso intencional do fogo. Entre eles estão um fragmento de argila cozida, machados de mão de sílex fraturados por calor intenso e dois pedaços de pirita de ferro — um mineral que produz faíscas quando friccionado contra o sílex. Esse último detalhe foi decisivo: a pirita não ocorre naturalmente na região, o que indica que foi coletada e levada até ali de forma deliberada. “Essa combinação mostra não só que havia fogo, mas como ele era produzido”, afirma Rob Davis, arqueólogo paleolítico do Museu Britânico e um dos autores do estudo. Calor intenso e repetido Para descartar a hipótese de incêndios naturais, como queimadas causadas por raios, os cientistas analisaram os sedimentos ao longo de quatro anos. Testes geoquímicos indicaram temperaturas superiores a 700 °C, além de sinais de que o fogo foi aceso repetidas vezes no mesmo ponto. Esse padrão, segundo os pesquisadores, é compatível com uma lareira construída, e não com eventos naturais esporádicos. A preservação excepcional do sítio ajudou na reconstrução do cenário. Os depósitos queimados ficaram selados em antigos sedimentos de lagoas, o que protegeu as evidências da erosão ao longo de centenas de milhares de anos — algo raro no registro arqueológico. Descoberta do primeiro fragmento de pirita de ferro em 2017, em Barnham, Suffolk, Inglaterra. Jordan Mansfield/Projeto Caminhos para a Grã-Bretanha Antiga via AP Impacto na evolução humana O domínio do fogo é considerado um dos grandes saltos da evolução humana. Ele permitiu enfrentar climas mais frios, afastar predadores e, sobretudo, cozinhar alimentos. O cozimento reduz toxinas presentes em raízes e tubérculos, elimina patógenos da carne e melhora a digestão, liberando mais energia — um fator-chave para sustentar cérebros maiores. Segundo Chris Stringer, especialista em evolução humana do Museu de História Natural de Londres, fósseis encontrados na Grã-Bretanha e na Espanha sugerem que os habitantes de Barnham eram neandertais primitivos, já com sinais de crescente sofisticação cognitiva e tecnológica. Além dos efeitos biológicos, o fogo também transformou a vida social. Reunir-se em torno da lareira à noite criava tempo para planejamento, interação e troca de histórias — comportamentos associados ao desenvolvimento da linguagem e de sociedades mais organizadas. Uma peça de um quebra-cabeça maior Os arqueólogos destacam que Barnham se insere em um padrão mais amplo observado na Europa entre 500 mil e 400 mil anos atrás, período em que o tamanho do cérebro dos primeiros humanos começou a se aproximar dos níveis modernos e em que surgem evidências mais claras de comportamentos complexos. Para Nick Ashton, curador das coleções paleolíticas do Museu Britânico, a descoberta é histórica. “É a mais emocionante dos meus 40 anos de carreira”, afirmou. Para a ciência, o achado ajuda a responder a uma pergunta antiga: quando os humanos deixaram de depender do fogo da natureza e passaram a criá-lo sob controle próprio. A resposta, ao que tudo indica, veio muito antes do que se pensava.

FONTE: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2025/12/13/humanos-ja-produziam-fogo-ha-400-mil-anos-indica-estudo-que-antecipa-marco-da-evolucao.ghtml


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